Fotografia não é só retratar o belo e o seu bonito. Não precisa recortar momentos que só ficam na memória. E o medo? E o estranho? E o repulsivo? E o que te faz pensar? E se não entender de cara, porquê?

“Fumo desde que nasci” de autoria própria foi feita para concluir uma matéria da minha graduação. Para a produção final foi preciso fazer três imagens base que se misturam - na pós-produção - para virar o corpo metamorfo que idealizei. Meu corpo, um bebê (que não divulgarei nomes para preservação e ética. Toda família e terceiros que me ajudaram foram devidamente agradecidos e utilizo desse lugar para agradecer novamente!) e o fundo com cigarros.

O projeto completo, em andamento, é dividido em 5 partes que navega por minhas questões de gênero, identidade e marcos emocionais, como o abuso. Esta peça está relacionada à minha primeira infância: Acompanhado de pais fumantes, lembro bem do cheiro do cigarro e da minha repulsa para com tal. “Fuma longe” era algo comum a ser dito. O propósito de retratar um corpo criança e o fumo, vem primeiro de uma vontade de chocar. Mas, além de querer produzir sensações, isto é a minha memória. O paradoxal vem quando o eu de agora também já fumou.

Acredito que a mensagem seja extremamente subjetiva, ainda mais se o público que por ventura venha ver minha obra não tenha algum grau de entendimento do que essa foto pretende ser. E ​​é esse meu objetivo. Tive uma ideia, e essa conheço melhor como ninguém pois passeia aqui dentro todos os dias, mas para além, quis transparecer monstruosidade, dor, movimento e o surrealismo. A compreensão tua que venha sobre o que verá, é a conclusão dessa obra, que tudo que vemos não seja nada que pensei e assim, pelo menos, te fiz imaginar.